Gestão Hospitalar

Conceitos e tendências da gestão hospitalar

A evolução do conceito nas organizações de Saúde obriga profissionais a buscar capacitação constante, além de exigir perfil de liderança

Por Editorial GesSaúde

O que é Gestão Hospitalar?

Gestão hospitalar é a ressignificação da administração moderna voltada para o ambiente da Saúde. É preciso compreender que, tal como qualquer empresa, o hospital possui fluxos financeiros, trânsito de pacientes (que devem ser encarados como clientes), mudança de cargos e postos de trabalho, entre outras dinâmicas. Além disso, uma organização de Saúde não está à deriva das tempestades mercadológicas – qualquer mudança no ambiente externo é sentida diretamente pela operação do hospital. A gestão hospitalar deve ser uma aplicação metodológica horizontal, ou seja, o gestor de uma instituição de Saúde deve administrar de forma holística o todo do negócio, e não apenas o assistencial.

De onde vem a Gestão Hospitalar?

A história da gestão hospitalar está ligada ao surgimento dos hospitais. Em períodos medievais, a Igreja, detentora dos conhecimentos científicos da época e também do poder diante do público, fomentou o surgimento de casas de acolhimento. Esses locais tinham como finalidade a recepção de pessoas enfermas e sem quaisquer condições financeiras para arcar com os custos de cuidados médicos. Tratavam-se, portanto, de ambientes voltados para cuidados paliativos, uma vez que a maioria da população enferma estava à mercê do óbito.

Desse eixo histórico surgem as Santas Casas (que antes eram denominadas Casas da Misericórdia). No período de industrialização mundial, os religiosos que atuavam nessas entidades já acumulavam certo conhecimento de técnicas de medicina. Mas nem por isso o foco das Santas Casas havia mudado: permaneciam como entidades voltadas para acolher a população de baixa renda. Devido à expansão das Santas Casas pelos continentes, a demanda, ou seja, o volume de pessoas que necessitavam atendimento aumentou e, além do atendimento médico, os religiosos foram obrigados a se organizar internamente. Alas de internação divididas por complexidade, recepção e triagem foram adotadas para melhorar a administração do atendimento.

Os primeiros conceitos de gestão hospitalar foram aplicados, portanto, em consequência do aumento da demanda por assistência. Porém, os profissionais que atuavam nas Santas Casas ainda eram médicos e enfermeiros. No Brasil, quando da instalação da Coroa Portuguesa, foi criado na região litorânea paulista a primeira Santa Casa da Misericórdia. Porém, os primeiros passos direcionados para uma gestão hospitalar qualificada e voltada para a segurança e saúde do paciente aconteceram em meados da década de 1920, quando foi fundado o  Colégio Americano de Cirurgiões (CAC) que estabeleceu o Programa de Padronização Hospitalar.

Gestão Hospitalar

Distante dos objetivos assistenciais dos primeiros hospitais, as organizações de Saúde da atualidade convivem com nível de complexidade que extrapola as paredes do hospital. Uma instituição de Saúde conta com diversos departamento, tais como recursos humanos, comercial, jurídico, marketing, comunicação, gestão de alas de internação, além de lidar com parceiros de mercado, fornecedores, operadoras de Saúde e a própria demanda do Sistema Único de Saúde (SUS). Os hospitais ainda estão sujeitos a legislações de vigilância, municipais, estaduais e federais. Sem contar que, com a evolução da tecnologia, diversos equipamentos e insumos precisam ser importados o que força a organização de Saúde a enfrentar legislações aduaneiras e internacionais.

Esse descritivo organizacional, embora simplificado, acontece de forma orgânica e constante. Ou seja, todos esses atores estão em funcionamento ao mesmo momento em que diversos pacientes/clientes demandam atendimento de múltiplas complexidades. Para organizar esse fluxo, existem técnicas da administração moderna que fornecem ferramentas e teorias para tornar a operação do negócio viável e com mínimo de falhas.

Assim é a lógica da gestão hospitalar, em uma visão simplificada, conforme apresentado pelo portal Guia de Carreiras:

  • Planejar, organizar e gerenciar instituições hospitalares;
  • Supervisionar o dia a dia do hospital no desempenho das questões burocráticas e administrativas;
  • Organizar processos de compras e controles de custos;
  • Acompanhar e supervisionar contratos e convênios de Saúde;
  • Gerenciar equipes de trabalho, mantendo contato com médicos, enfermeiros e membros da equipe administrativa;
  • Identificar prioridades de serviço e ações inovadoras;
  • Cuidar da manutenção dos equipamentos e do estoque dos materiais.

O gestor hospitalar

No setor da Saúde muito se discute sobre o perfil do administrador de uma organização de Saúde. No Brasil, a maioria dos dirigentes nos hospitais ainda são médicos e enfermeiras. A forma de administrar desses profissionais, contudo, foi absorvida pelo cotidiano do trabalho – sempre diretamente ligada à assistência, mas, por vezes, com pouco contato com os demais departamentos. Muito embora o foco das organizações seja segurança e saúde do paciente, gerir uma entidade complexa e com diversos atores em movimentação exige o alinhamento entre técnicas de administração e conhecimento sobre saúde.

Por isso, o mercado exige que as entidades hospitalares tenham à frente do negócio gestores hospitalares – cargo que atende às demandas estratégicas da administração de empresas, porém, compreende e tem capacidade de gerenciar a parte assistencial.

A adoção de melhores práticas abrange todas as áreas dentro da instituição, não somente a diretoria. Por isso, é essencial que o gestor esteja muito próximo dos demais departamentos, de forma a repassar conhecimento e envolver a todos – respeitando hierarquias e atribuições – no projeto. Desde a hotelaria, que conta com serviços de limpeza e manutenção, até a equipe de médicos, que lida diretamente com os pacientes, os setores tanto internos quanto externos (fornecedores, trabalhadores terceirizados), devem ter conhecimento da importância de sua participação individual no plano completo.

Tendo em vista essa grade de responsabilidades, cabe ao gestor hospitalar:

  • Acompanhar os dados do Serviço de Atendimento a Clientes (SAC) ou ouvidoria da instituição para propor melhorias baseadas nas críticas e reclamações feitas por pacientes;
  • Gerenciar os serviços oferecidos por meio de feedbacks de funcionários e trabalhar na melhoria com ajuda de treinamentos e coachings;
  • Acompanhar o fluxo de processos recomendados por órgãos de acreditação hospitalar, como da Organização Nacional de Acreditação (ONA);
  • Estabelecer manutenções preventivas em equipamentos e maquinários.

Formação acadêmica

O Conselho Federal de Educação determinou, em junho de 1973, a integração da habilitação em administração hospitalar, diretamente integrada no curso de graduação em administração de empresas. Atualmente, o órgão tem a denominação de Conselho Nacional de Educação (CNE). Por isso, o gestor hospitalar é, necessariamente, um profissional com formação em Administração de Empresas, com profundidade teórica voltada para as especificações mercadológicas da Saúde. Em 1973 foi criada uma resolução que integraliza ao curso de Administração de Empresas a habilitação em Administração Hospitalar.

Atualmente, o curso de Gestão Hospitalar é regido pelo Ministério da Educação (MEC), com normas e grade curricular definidos pelo  Decreto nº 5.154/2004 que regulamenta o § 2º do art. 36 e os arts. 39 a 41 da Lei nº9.394/96 – que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.

Porém, apenas essa base acadêmica já não se encaixa na realidade das organizações de Saúde brasileiras. O gestor hospitalar moderno necessita de cursos extras, como MBA, e constantes reciclagens.

Um dos fatores que contribuíram para a necessidade de ampliação da formação acadêmica do gestor é a tecnologia. Os avanços tecnológicos permitem não apenas a automação de ações administrativas, mais que isso, permitem maior segurança ao paciente ao mesmo tempo que agregam qualidade e valor para os serviços prestados.

Por isso, o gestor de Saúde deve estar sempre atualizado sobre as novidades tecnológicas para compreender os benefícios que trazem à instituição e também para engajar e fornecer capacitação para todos os colaboradores que estarão diretamente envolvidos com a manipulação das ferramentas.

Para se ter uma ideia, muitas organizações já usam tecnologias avançadas para a melhoria da qualidade do atendimento e robotização de processos:

  • Impressão 3D: o princípio é o mesmo da impressora tradicional, mas no lugar da tinta, um filamento de metal, plástico ou outro material imprime próteses tridimensionais como braços e pernas.
  • Realidade virtual e mista: é a criação de um cenário digitalizado, feito no computador. Por meio de um óculos, é possível se sentir nesse novo ambiente e interagir com os elementos. Na medicina, a realidade virtual ou mista – quando se mistura com a realidade – também pode ser usada para o planejamento cirúrgico e, principalmente, para o ensino.
  • Robótica: a assistência de robôs nas salas de cirurgia e na automação de processos, aos poucos, está se tornando realidade. Isso pois robôs possuem maior precisão e agilidade na execução de atividades.
  • Inteligência Artificial: a tecnologia é capaz de gerar dados, auxiliar no tratamento de doenças e na identificação de diagnósticos. Sistemas computacionais, softwares e hardwares dos hospitais já estão aprendendo e relacionando algoritmos. A tecnologia é ser útil, por exemplo, para a análise de radiografias.

O gestor hospitalar necessita, portanto, de embasamento teórico não apenas para entender em quais tecnologias deve investir. Aplicações financeiras em produtos tecnológicos complexos podem acarretar em furos nas finanças da organização caso o gestor não compreenda o funcionamento da tecnologia. Mais que isso, o gestor é o exemplo para toda as equipes da instituição e, portanto, deve deter o poder de engajar funcionários e motivá-los a operar da melhor forma as ferramentas tecnológicas.

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