Adoção de ferramentas digitais deve estar ligada ao conhecimento de suas capacidades para melhorar a performance do hospital
Por Editorial GesSaúde
A Transformação Digital é o momento em que as empresas estão passando por mudanças fomentadas pela evolução da tecnologia digital. Trata-se do fenômeno em que os processos são transformados em digitais, aumentando a velocidade de execução e melhorando a qualidade dos produtos e serviços prestados pela empresa. A Transformação Digital na Saúde (TDS) implica em digitalização de dados, interconectividade entre máquinas e comandos, bancos de dados mais eficientes e maior autonomia dos pacientes em relação à própria saúde, por exemplo.
Uma pesquisa da Health Industry Issues of 2018, da consultoria norte-americana PwC, apontou que 32% da população mundial já utiliza aplicativos para monitorar a saúde. Além disso, o estudo também publicou que 30% dos pacientes com mais de 65 anos preferem uma consulta online se ela for mais barata que a convencional. Entre os profissionais de Saúde não é diferente: 46% das organizações usam aplicativos para monitorar remotamente seus pacientes e 21% para interagir com eles; e 31% dos médicos têm assistentes pessoais em seus smartphones.
Os dados da pesquisa confirmam a necessidade cada vez maior de as empresas se adaptarem à revolução digital. O processamento e cruzamento através das soluções digitais permitem a geração de resultados confiáveis e informações necessárias não apenas para tomadas de decisões, mas também para melhoria constante dos serviços e produtos e relacionamento com os clientes. Na Saúde, o cliente/paciente é a ponta do negócio que está mais conectada às tecnologias. Para se ter uma ideia, relatório publicado em 2017 pela Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento mostra que o Brasil é o quarto país entre aqueles que possuem mais pessoas conectadas à internet. Conforme a publicação, são mais de 120 milhões de usuários interligados à web, atrás apenas dos Estados Unidos (242 milhões), Índia (333 milhões) e China (705 milhões).
Com a transformação digital, instituições de Saúde do mundo todo estão automatizando processos e adotando tecnologias para se transformar. Segundo um estudo realizado pela McKinsey & Company, esse cenário é reflexo da mudança de perfil do cidadão: mais de 75% deles esperam utilizar serviços digitais do setor no futuro. A pesquisa mostra, ainda, que hospitais conectados são 50% mais propensos a aumentar a participação no mercado e elevar as margens de lucro em comparação aos concorrentes sem acesso à tecnologia.
A digitalização da Saúde ainda está em evolução e encontra, no mercado nacional, players que ainda não despertaram para as mudanças. Convivem ainda com modelos analógicos de gestão de processos e falta ainda afinidade com os recursos digitais implantados. Antes de investir em tecnologia de ponta, deve-se planejar os investimentos e saber de que forma cada inovação ajudará os hospitais a alcançar os resultados almejados. Além disso, é necessária uma mudança de cultura. O uso das tecnologias digitais exige integração, ter uma gestão madura e pronta para receber essas ferramentas significa entender que o mais importante é trabalhar, em conjunto, com um único objetivo final: melhorar a saúde do paciente.
TDS: de onde surgiu o conceito
A Transformação Digital na Saúde está diretamente ligada à Revolução Industrial 4.0. Em artigo publicado por Guilherme Rabello, membro do comitê executivo de Inovação no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, esse processo histórico pode ser dividido em três etapas: A primeira marcou o ritmo da produção manual à mecanizada, entre 1760 e 1830. A segunda, por volta de 1850, trouxe a eletricidade e permitiu a manufatura em massa. E a terceira aconteceu em meados do século 20, com a chegada da eletrônica, da tecnologia da informação e das telecomunicações.
A Saúde 4.0, termo também ligado à TDS, garante que as organizações de Saúde possuam monitoramento de pacientes e diagnósticos, integração de unidades de emergência, tratamentos personalizados e direcionados para cada perfil com o uso do mapeamento genético, interoperabilidade, transferência de dados, expansão do prontuário para áreas assistenciais diversas e maior segurança para o paciente. No mercado em geral, a Transformação Digital tem impulsionado, em média, 37% do crescimento de receita advinda de novos negócios, que mesclam novas tecnologias digitais e melhoria da oferta. Essa informação, publicada em pesquisa do portal Transformação Digital, mostrou também que cerca de 76% de empresas participantes do estudo informaram ter melhorado a capacidade de atingir seus clientes e 69% relataram melhor diferenciação competitiva.
A metamorfose no cenário da Saúde acontecerá com organizações amparadas por uma boa estratégia, bons processos, recursos tecnológicos de ponta, equipe qualificada, coesa e alinhada para entregar os resultados. É assim que o atual sistema vai evoluir definitivamente para um modelo em que a figura do paciente dará lugar ao cliente. Trata-se de uma visão muito mais ampla que tratamento e cura, uma visão realmente de promover a Saúde. O deslocamento será para um serviço de promoção e prevenção.
Evolução do uso da tecnologia na Saúde
Os primórdios da utilização de tecnologia na Saúde têm início com o advento do microscópio. O equipamento surgiu em 1673 por Anton Van Leeuwenhoek, com finalidade para examinar sangue, leveduras, insetos e muitos outros objetos minúsculos, sendo Leeuwenhoek a primeira pessoa a descrever as bactérias. Desse período, adviram outras técnicas e equipamentos como a medicação intravenosa, seringa hipodérmica e o termômetro. Porém, em meados do século XIX a área clínica ganha a inovação do raio-x e posteriormente inovações como o eletrocardiograma, por exemplo.
As tecnologias disruptivas causaram impacto não apenas na forma de gerir os negócios em Saúde. Na medicina, os avanços proporcionaram a interação entre máquinas e conhecimentos cirúrgicos e de diagnóstico. Por exemplo, em 2011 foi realizada a primeira cirurgia assistida por robôs no Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Impactos e perspectivas da TDS
A tecnologia está transformando os mais diversos setores da economia, em todos os lugares do mundo. No Brasil, a Saúde está se adaptando a essa nova realidade e as empresas entendem que essa transformação se estende além da aquisição de hardware e software, impactando na forma como as pessoas se comportam e interagem. É uma mudança de modelo, muito mais que ganhos de eficiência, é repensar o modelo de operação à luz de inteligência artificial, internet das coisas, impressão 3D, realidade virtual e tantas outras tecnologias disruptivas que já fazem parte de nossa realidade. Os hospitais brasileiros, no entanto, ainda estão na fase inicial dessa percepção, muitos sequer conseguiram transformar os investimentos em ganhos de eficiência.
Profissões ligadas à Saúde estão passando por transformações muitas vezes abruptas. A robotização pode tomar o lugar de profissionais que não se adaptarem e se encaixarem junto às novidades tecnológicas. Processos e tarefas do backoffice ganham velocidade e otimização com ferramentas de integração de áreas e feedback instantâneo. O prontuário eletrônico ganha maior dinamismo, fornecendo conteúdo histórico amplo do paciente e compartilhamento imediato, além de passar a ser importante base de informação
Principais tecnologias
Ferramentas disruptivas já estão em uso em algumas organizações de Saúde do País. Um exemplo disso, no Hospital das Clínicas, São Paulo, está sendo testado o método Soivet (teste de orientação espacial em ambiente virtual imersivo), modelo de exame para diagnóstico do Alzheimer. Resumidamente, o método permite que o paciente memorize percursos sem a necessidade de sair do hospital. Isso é possível graças à tecnologia da realidade aumentada.
Na gestão hospitalar, a tecnologia também pode ser empregada para conseguir melhores resultados e agregar valor aos serviços prestados:
- Business Intelligence (BI): ferramenta capaz de coletar, organizar, analisar, compartilhar e monitorar informações que oferecem suporte à gestão de negócios. Conceitualmente, trata-se do conjunto de teorias, metodologias, processos, estruturas e tecnologias que transformam uma grande quantidade de dados brutos em informação útil para tomada de decisões estratégicas. Na prática, é a ferramenta que ajuda, por exemplo, na identificação de possíveis gargalos nos processos que, solucionados, podem otimizar os resultados.
- Tecnologias de analytics: trazem mais recursos de preditividade, possibilitando traçar cenários futuros por meio da análise dos dados com raciocínio sistemático. Dessa forma, amplia-se a possibilidade de seu uso para conduzir a um processo de tomada de decisão ainda mais eficiente. A indicação é o uso de BI e analytics em complementaridade.
- Big data: outra tecnologia de gestão essencial para o hospital que quer entrar de vez na era da transformação digital. Ele representa o armazenamento de grande volume de dados, gerados pelas mais diversas fontes, estruturados ou não, e que, ao serem analisados, são revertidos em informações estratégicas para os negócios.
- Computação cognitiva: trata-se de plataforma de apoio ao diagnóstico que utiliza tecnologia cognitiva e inteligência artificial para analisar todas as informações sobre um paciente, seu histórico familiar e estilo de vida para, baseada em evidências, indicar prevenção ou tratamento a doenças.
- Internet das Coisas (Internet of Things – IoT): possibilita que o paciente envie online, de forma instantânea, dados de monitoramento de sua saúde para esse mesmo prontuário, o que ajudará a monitorar a evolução do tratamento e a necessidade de mantê-lo ou alterá-lo.
Convergência Tecnológica e como atingir a Transformação Digital na Saúde
O termo refere-se ao compartilhamento de uma mesma estrutura para diferentes serviços. Explicando: para as organizações de Saúde, a convergência é a integração de ferramentas digitais como e-mails, canais de comunicação, prontuário eletrônico, inteligência artificial, internet das coisas, big data, analytics, fluxo de insumos, por exemplo, em uma mesma plataforma. Essa metodologia é voltada para simplificar soluções de Tecnologia da Informação (TI), além de permitir o trabalho remoto de equipes através dos dados salvos em nuvem.
Com a transformação digital, instituições de Saúde do mundo todo estão automatizando processos e adotando tecnologias. Segundo um estudo realizado pela McKinsey & Company, esse cenário é reflexo da mudança de perfil do cidadão: mais de 75% deles esperam utilizar serviços digitais do setor no futuro. A pesquisa mostra, ainda, que hospitais conectados são 50% mais propensos a aumentar a participação no mercado e elevar as margens de lucro em comparação aos concorrentes sem acesso à tecnologia.
O primeiro passo para uma organização realizar a Transformação Digital é avaliar onde a instituição está em termos de maturidade e aonde quer chegar com a digitalização. A partir daí, identificar os gargalos e focar na solução de problemas que atrasam esse processo. É importante também revisar as práticas e as tecnologias usados.
A mudança de cultura e a capacitação de pessoas são tão importantes quanto o aprimoramento de processos. Médicos, enfermeiros e demais profissionais que atuam no hospital precisam entender essa nova fase e receber a capacitação necessária para que, por exemplo, preencham corretamente os prontuários e deixem de lado a cultura do papel e caneta. Os processos devem ser claros e atender aos objetivos da organização. Antes de investir em tecnologia, é necessário que as tarefas sejam compreendidas por todos os membros das equipes e os resultados compartilhados entre elas com o objetivo de tornar o funcionamento do hospital mais fluido o possível. Somente após organizar a casa, é possível aplicar a tecnologia.
O estudo TIC Saúde, de 2015, revelou que 92% das unidades de Saúde do País têm computador e 77% possuem sistema eletrônico para gerenciamento e armazenamento de informações dos pacientes. Muito embora, conforme levantamento da GesSaúde, apenas 30% ou 40% dos recursos destes sistemas são utilizados pelas organizações. Esses dados mostram que, apesar de conscientes da importância da tecnologia, muitos gestores não possuem conhecimento dos seus dos processos e das tecnologias que possuem. O impacto direto é sentido no caixa: verba dispensada para equipamentos modernos que são sub-utilizados pelas equipes, o que gera ineficiência na operação, muitas vezes comprometendo sustentabilidade financeira da instituição.
Toda essa metamorfose, porém, deve começar pelo gestor. O CEO é responsável por engajar as equipes, motivar lideranças e conhecer as melhores soluções digitais para a organização. Por tanto, a Transformação Digital na Saúde caminha com a evolução da maturidade de gestão. Aqui, cabe ao gestor compreender e se atualizar constantemente sobre as inovações. Todo o aparato tecnológico deverá focar em análises preditivas e preventivas. Big Data, dispositivos vestíveis (wearable devices), Inteligência Artificial, Internet das Coisas (IoT, ou Internet of Things), computação cognitiva e coisas que ainda nem surgiram deverão estar integrados ao Prontuário Eletrônico do Paciente, para que seja possível estar um passo à frente da doença.
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