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Custos assistenciais da Saúde Suplementar acendem alerta no setor

Pesquisa do IESS traduz em números a insustentabilidade do modelo atual, que tem a doença como foco

por Editorial GesSaúde

Uma forma de melhorar a qualidade do atendimento para a Saúde Suplementar a aplicação do conceito de care coordination. Foto: Pixabay

A insustentabilidade do atual sistema de Saúde brasileiro fica cada dia mais evidente. O envelhecimento populacional e o consequente aumento da demanda por serviços para tratar doenças já estabelecidas acende um alerta urgente. Uma pesquisa do Instituto de Estudos da Saúde Suplementar (IESS) divulgada em julho de 2018 traduz essa situação em números: a estimativa é que as despesas assistenciais das operadoras cheguem a R$ 396,4 bilhões em 2030, um avanço de 272,8% em relação aos R$ 106,3 bilhões constatados em 2014. E a projeção ainda é considerada conservadora pelo estudo.

Conforme o IESS, apenas com internações, os planos de Saúde devem dispender R$ 260,3 bilhões. O montante é 331,7% superior aos R$ 60,3 bilhões gastos em 2014 e representa cerca de dois terços (66%) do total gasto com despesas assistenciais. Hoje, as internações já respondem por 56% das despesas. Já os gastos com terapias são aqueles que mais devem crescer no período, segundo o estudo. Em 2014, as despesas assistenciais com esse grupo de procedimentos somaram R$ 5,5 bilhões. Em 2030, este valor deve atingir R$ 54,7 bilhões, alta de 894,5%.

De acordo com Rita Ragazzi, gerente de Pesquisa em Saúde Transformacional e head Latam da Frost & Sullivan, as organizações de Saúde devem iniciar um processo de mudança operacional, aplicando o conceito de care coordination. “Atualmente, o grande motor dos hospitais são os planos de Saúde. Porém, para melhorar o foco na saúde suplementar é preciso implantar ações coordenadas em que constam o mapeamento dos grupos de risco, caracterização das localidades onde moram essas pessoas, histórico detalhado e compartilhado via prontuário eletrônico, entre outras atitudes”, salientou.

A especialista argumenta que essa alteração, contudo, pode ser iniciada com apoio e subsídios do poder público. “No início não será perfeito. Porém, o poder público pode subsidiar essas ações coordenadas. O mais importante é que haja uma mudança também nos planos de Saúde que não podem punir os pacientes com quadros de risco. Pelo contrário, devem beneficiar esse grupos todas as vezes em que participarem de ações preventivas. Isso não pode ser obrigatório”, reforçou.

Tecnologia

A head da Frost & Sullivan aponta ainda o papel que a tecnologia possui nesse processo de mudança cultural das organizações de Saúde. “Para que as ações coordenadas resultem em redução de custo para os hospitais, sem perder a qualidade de atendimento do paciente, é necessário investimento em tecnologia. O histórico do paciente tem de ser compartilhado entre as instituições e planos de Saúde e para que isso aconteça de forma integrada, é necessário o uso de ferramentas digitais. Novamente, o poder público pode auxiliar na composição do histórico. Hoje no Brasil a administração pública tem acesso às informações financeiras das pessoas pela declaração do Imposto de Renda. Por que isso não pode acontecer também na Saúde?”, exemplificou a especialista.

Tratamento de doenças

Conforme o IESS, apenas com internações, os planos de Saúde devem dispender R$ 260,3 bilhões. Foto: Pixabay

Paulo Marcos Senra Souza, médico conselheiro do Instituto Latino Americano de Gestão em Saúde (Inlags), destaca a necessidade de mudança do atual modelo, que classifica como hospitalocêntrico e focado no tratamento de doenças, não na prevenção delas. “Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), um brasileiro nascido no ano de 2012 já tem esperança de viver até os 74,6 anos e, em 2030, essa expectativa deve chegar a 78,33 anos. Esse aumento exige preparação e mudanças de comportamento para enfrentar os desafios inerentes a uma população mais idosa, o principal deles o avanço das doenças crônicas”, destaca o especialista. Souza ainda complementa que um terço da população já sofre de pelo menos uma dessas doenças, entre casos de diabetes, hipertensão, reumatismo, doença pulmonar ou dislipidemia. Esses males respondem por 70% dos gastos com saúde no Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde.

O especialista acredita que a complexidade do cenário da Saúde brasileira exige a disseminação organizada e ética de conhecimentos, o compartilhamento de boas práticas de gestão e o engajamento de todas as organizações envolvidas no cuidado, em especial hospitais e operadoras. “O desenvolvimento de ações de gestão de saúde populacional se torna uma ferramenta estratégica para viabilizar o envelhecimento ativo da população e a sustentabilidade econômica do setor, pois se trata de uma linha condutora que auxilia na análise do impacto das determinantes de saúde e conhecimento do risco de uma população, visando a definir ações através das melhores práticas e medir resultados com base em indicadores”, destaca.

Souza enfatiza ainda que é fundamental que se promova uma grande aliança em busca de soluções integradas, com uma visão ampla da saúde da população, gerando informação, conhecimento, resultado e evolução e incentivando o envolvimento e a responsabilidade pessoal de todos os públicos participantes. Somente assim, na visão do especialista, será possível ajudar os indivíduos saudáveis a permanecerem saudáveis e os  portadores de doenças crônicas a participarem de programas que contribuam para uma gerência eficiente das suas condições, promovendo o seu constante bem estar.

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