O primeiro passo para a transformação é abandonar o comando e controle e investir na liderança humana e participativa
Por Roberto Gordilho
Comando e controle são expressões que representam o domínio do poder de processos empresariais e gestão de pessoas. Também qualifica o perfil de liderança e gestão que, apesar de ser um modelo ultrapassado para os negócios, ainda se faz presente em algumas organizações de Saúde que não se adaptaram. Comandar e controlar faz com que a criatividade seja minada. As pessoas não se engajam e enxergam no líder que tem esse perfil um dificultador do trabalho. Com tantas transformações acontecendo na Saúde, é imprescindível que gestores e líderes atualizem suas práticas e tenham uma gestão de equipes mais humana e participativa.
Com as novas tecnologias as pessoas podem ampliar suas conexões e ter acesso fácil a múltiplas informações. A troca de experiências ganhou profundo valor para as relações. Isso torna ainda mais valiosa e democrática a comunicação. Fatores como empatia e escuta ativa se sobrepõem ao foco centrado na tarefa. O líder deve enxergar as pessoas por trás de cada profissional. Apenas comandar e controlar torna as relações mais frias e mecânicas. Dificilmente a inovação acontece dentro de uma organização de Saúde que ainda pratica esse modelo (arcaico) de gestão de pessoas.
Flexibilizando a liderança
O bem-estar das pessoas reflete diretamente na produtividade. Quando um liderado não está bem, é preciso promover o diálogo de forma que o líder se apresente como facilitador e mentor. O que acontece em parte das instituições é que a gestão, muitas vezes, não enxerga as estratégias por trás da liderança humanizada. Ao se aproximar de um liderado, compreender e se aproximar da sua realidade, o líder consegue absorver informações importantes para a gestão das pessoas. Por exemplo:
Desafios: na liderança baseada em desafios, é fundamental que o líder saiba dosar as proposições de crescimento individual e obtenção dos resultados. Para tanto, é preciso saber em que momento cada pessoa se encontra. Se houver problemas pessoais, por exemplo, pouca será a atenção e energia aplicada para um novo desafio. É preciso identificar os fatores que geram desmotivação, oferecer suporte e orientação antes de envolver o liderado em um novo desafio;
Dados: na gestão orientada por comando e controle, dados e informações relevantes para a tomada de decisão ficam restritos às hierarquias mais altas. Dessa maneira, a atuação e crescimento da equipe é limitada e o processo de resolver intercorrências é pouco – ou nada – dinâmico. Para evitar esse cenário, o líder deve não apenas compartilhar os dados e permitir que cada membro da equipe participe (em seu nível) da tomada de decisão mais assertiva. É preciso interpretar os dados e entregar ao time informações claras e que estejam alinhadas com o trabalho que está sendo desenvolvido.
Ambiente
Outro fator negativo da gestão orientada por comando e controle é a falta de equilíbrio do ambiente de trabalho. Por exemplo, as organizações de Saúde e outros modelos de negócio ainda estão se estruturando com relação ao trabalho remoto. Em instituições com gerenciamento rígido e ditatorial, a escolha pelo modelo de trabalho é feita de forma vertical, sem considerar a opinião dos colaboradores e o preparo individual. Já na liderança focada no engajamento e na relação humana entre as pessoas, a escolha é mais participativa. O líder se apresenta como facilitador, oferecendo treinamentos e atualizações para que as equipes tenham um processo de adaptação natural – principalmente para o trabalho remoto ou híbrido. Cada pessoa tem mais liberdade para opinar e defender melhor a forma de atuar, levando em consideração os resultados a serem alcançados por toda a equipe e também as metas do negócio.
O líder que está em sintonia com as transformações promove um ambiente de trabalho agradável e acolhedor. As pessoas sentem-se mais seguras para tomarem suas decisões e compartilhar seus anseios. Direitos, diversidades, características individuais são respeitados e fazem parte do conhecimento que permite ao líder elaborar estratégias voltadas para o crescimento dos liderados e focar nos resultados. Para as organizações de Saúde, que são feitas por pessoas que cuidam de outras, o modelo de comando e controle reflete negativamente inclusive na experiência dos clientes. Ou seja, se os times estão desmotivados e não podem agir com criatividade, as entregas acontecem sem levar em consideração o relacionamento com os usuários. Para os times que lidam diretamente com o público, a falta de humanização do relacionamento pode ser transmitida no relacionamento com os clientes.
O papel da liderança é fortalecer o propósito e disseminar os valores da organização. O líder deve conduzir as rotinas facilitando a atuação das pessoas e promovendo o crescimento individual. A troca deve acontecer de forma natural por meio do relacionamento e comunicação entre líder e liderados. Equipes motivadas se tornam empoderadas pelo compartilhamento e interpretação de dados e informações necessárias para a tomada de decisão. Os talentos se destacam e encontram na instituição o caminho para continuarem se desenvolvendo. Todo esse ambiente é construído estrategicamente pelo líder. É um trabalho rotineiro que começa pelo abandono do modelo de comando e controle.