Especialistas apontam possível aumento da demanda para hospitais e estímulo à mudança do modelo de remuneração
Por Editorial GesSaúde
A partir desta semana os beneficiários de planos de Saúde coletivos empresariais já podem migrar para outros pacotes e operadoras sem a necessidade de cumprir as carências. A chamada portabilidade é uma das principais mudanças propostas no fim de maio pela Agência Nacional de Saúde (ANS). A medida beneficia uma parcela que representa quase 70% do mercado. Contudo, especialistas apontam a necessidade de melhorias nos processos de gestão das operadoras e na relação com os hospitais – que podem ter aumento da demanda.
Na visão do médico Marcelo Brito, presidente da Federação Baiana de Saúde (Febase) e vice-presidente da Confederação Nacional de Saúde (CNS), essa alteração no mercado elimina uma ferramenta de entrave no acesso aos serviços de Saúde. “A carência era um mecanismo utilizado de forma indevida. Se a operadora deseja que os consumidores comprem os planos, que faça uma entrevista qualificada ou exames médicos para verificar se há algum tipo de pré-condição. A carência só dificulta o atendimento, criando um empecilho muitas vezes equivocado e fazendo com que o usuário não tenha acesso ao hospital, o que pode agravar seu quadro. Depois, quando é liberado da carência, este usuário tem uma condição de saúde muito mais complexa, o que encarece o tratamento”, explicou.
O médico, principal criador do captation reverso, defende a mudança no modelo de remuneração praticado atualmente, além de alterações na gestão de hospitais e operadoras. “O que temos de fazer é focar na qualidade do atendimento e na prevenção. O fee-for-service tem um equívoco tão grave que se o prestador adotar uma boa política preventiva, o modelo, em tese e do ponto de vista empresarial, o levará à falência. Isso ocorre porque ele tem como foco a doença, não a saúde.”
Para o coordenador do curso de medicina do campus São Paulo da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), Fernando Teles de Arruda, as alterações sancionadas pela ANS vão aquecer o mercado. “Essa mudança favorece o consumidor. É uma lógica que diminui burocracia e outros entraves e amplia acesso. Agora os planos têm de se preocupar em garantir os serviços, com uma gestão financeira que não demande transferências ao consumidor, ao mesmo tempo em que geram pacotes que estimulem o cliente. Na prática, as operadoras que oferecem valores mais baixos e menos acréscimos anuais vão atrair mais clientes. A Saúde está entrando em um período interessante. A operadora que oferecer processos enxutos, acréscimos anuais mais controlados e melhorados por um processo de gestão eficiente vai ganhar mais espaço no mercado”, comentou.
Glosas
Outro fator apontado pelo médico Marcelo Brito como um estimulador das falhas de relacionamento no mercado da Saúde são as glosas. O especialista reforça que as organizações de Saúde devem transformar a cultura organizacional quando o assunto é modelo de remuneração. “As glosas se tornaram um mecanismo de controle de caixa em algumas operadoras. Isso significa dizer que quando elas têm dificuldade em obter recursos, ampliam as glosas de forma linear ou não justificada tecnicamente, por meio de mudanças na relação e impedimento do pagamento. Assim, adiam por alguns meses o custo assistencial e, a partir daí, a prática entra no fluxo de caixa. Precisamos acabar com esse mecanismo para mudar o modelo de remuneração. Todo o mercado sabe disso, porém, estamos há 30 anos com esse conhecimento em mãos e nada muda, pois faltam propostas concretas de ambos os lados”, ressaltou.
A portabilidade é, para os especialistas, mais uma oportunidade do mercado para operadoras e hospitais organizarem a relação e, assim, avançarem juntos rumo a uma Saúde de qualidade e que dê resultados.
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