Gestão clínica e empresarial devem ter o mesmo nível de importância para evoluir a maturidade de gestão hospitalar e garantir o cumprimento da missão da organização
por Roberto Gordilho
Uma afirmação que ouço muito entre os profissionais de Saúde quando o assunto é governança corporativa é que a gestão clínica é mais importante que a gestão empresarial. Afinal, estamos falando do cuidado com o paciente, portanto, a assistência é a parte mais relevante do hospital. Essa é uma visão parcial e equivocada: um bom serviço depende de equilíbrio entre os dois aspectos. Uma área não existe sem a outra, e elas precisam trabalhar juntas para alcançar os resultados planejados.
Governança corporativa: como otimizar a gestão hospitalar
O setor ainda mantém o foco na figura do médico. Os líderes da maioria dos hospitais são os profissionais da área que, apesar de serem excelentes no que fazem, não necessariamente contam com conhecimentos e experiência de gestão. Por isso, focam todos os seus esforços na assistência, traçando objetivos e alinhando interesses unicamente nela, muitas vezes se esquecendo que o hospital é uma empresa.
Mas experimente deixar a organização um único dia sem a equipe da farmácia hospitalar, por exemplo. Como será possível ministrar os medicamentos receitados sem contar com os profissionais responsáveis pela compra dos itens pelo melhor preço, a gestão do que entra e sai da farmácia e o monitoramento da aplicação do remédio indicado ao paciente correto? O risco de gastos desnecessários e intercorrências nesse processo seria muito maior.
Imagine agora um hospital sem o setor de faturamento. Prestar atendimento ao paciente se torna quase impossível quando não há gestão de contas a faturar. A ocorrência de glosas aumenta desenfreadamente e o hospital não consegue receber o pagamento das operadoras de Saúde.
Essa é, portanto, a principal dicotomia do setor: tratar a saúde e gerar resultados que mantenham a qualidade do atendimento, além do equilíbrio dos recursos finitos.
Importância x relevância
Com essa análise fica claro que, na visão do gestor maduro, a importância que se dá tanto à área clínica quanto à empresarial de um hospital deve ser a mesma.
Mas importância é diferente de relevância. A relevância da assistência nas organizações de Saúde é sempre maior, porém, para que ele atue de forma plena, os demais departamentos que fornecem apoio devem estar bem orquestrados.
Um paralelo que facilita o entendimento é com os programas de TV: quando assistimos a um noticiário, vemos os apresentadores na frente das câmeras totalmente preparados e tendemos a esquecer de toda a equipe que está atrás daquelas lentes. São eles que ajudam os apresentadores a brilhar na tela. O mesmo processo deve acontecer no hospital: para que o médico garanta a qualidade do serviço, precisa do apoio do backoffice e de todos os serviços de apoio.
O gestor
O responsável por garantir que assistencial e backoffice funcionem de forma plena e integrada é o gestor. É ele quem precisa evoluir a maturidade de gestão hospitalar, para que o hospital seja visto como um todo, e não mais de forma departamental – não pode haver caixinhas quando o assunto é administrar uma organização de Saúde.
Para percorrer esse caminho e evoluir, é preciso considerar os cinco pilares da maturidade de gestão hospitalar – governança corporativa, estratégia empresarial, tecnologias de gestão, gerenciamento de processos e gestão de pessoas – em todas as áreas. Não adianta, por exemplo, implantar gerenciamento de processos no atendimento se não há o mapeamento de todos os processos envolvidos no cuidado ao paciente. Não há organização que alcance metas e resultados de estratégia empresarial sem considerar seu backoffice. Não existem tecnologias de gestão que otimizem tempo e recursos sem levar em consideração todos os setores da instituição.
Portanto, é preciso unir assistência e gestão para que a instituição possa sobreviver, crescer e cumprir a sua missão e vocação: levar o melhor, mais seguro e mais humano atendimento de saúde àqueles que necessitam.
Roberto Gordilho é fundador da GesSaúde, mestrando em administração, especialista em sistemas de informação, engenharia de software, desenvolvimento web e em finanças, contabilidade e auditoria, possui mais de 30 anos de experiência nas áreas de tecnologia e gestão, sendo 15 na área da Saúde.
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