O compartilhamento de UTIs exige maturidade de gestão para ambos os setores na condução da crise provocada pelo Covid-19 nos hospitais
Por Roberto Gordilho
Em diversos estados os hospitais públicos estão no limite da capacidade dos leitos de UTI (unidade de terapia intensiva) com pacientes contaminados pelo Covid-19. Para minimizar os impactos da superlotação, o poder público iniciou, em diversas localidades, a instalação de hospitais de campanha – que também já apresentam sinais de estarem à beira do colapso. A crise provocada pela pandemia agora está emergindo uma relação que há décadas se fez necessária, porém, foi ignorada: a união entre organizações de Saúde pública e privada.
Porém, a situação ainda é desafiadora principalmente em estados mais afetados pelo coronavírus, como o Rio de Janeiro. Do ponto de vista da gestão hospitalar, a estratégia de receber pacientes do SUS (Sistema Único de Saúde), mesmo com a desatualização da tabela, permite um crescimento profissional que será cobrado no cenário pós-crise. Os gestores que estão nessa linha de frente vão ter que gerir recursos, insumos e capital humano para manter a operabilidade da instituição e não enfrentar possíveis problemas judiciais.
Integração
Dentro do setor Saúde muitos gestores enxergam com maus olhos a integração com a Saúde Pública. Contudo, essa coparticipação na assistência se manteve latente em tempos atrás. O SUS, um modelo elogiado e reconhecido mundialmente, encontra na falta de investimento e interesses políticos a origem das falhas atuais. Por isso e pela falta de atualização da tabela de pagamento, o setor privado evitou o compartilhamento da demanda. Agora, de ambos os lados os gestores precisam compreender a nova dinâmica, rever processos, preços e modelo de operação para que os paciente não sejam prejudicados pela mudança de paradigma.
Judicialização
Antes da pandemia, um dos marcos seria a aplicação da LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), à qual os dirigentes das instituições estavam na corrida pela adaptação. Com o surto do Covid-19, a vigência da nova lei foi postergada. Mas não é por isso que as organizações de Saúde deixaram de se preocupar com entraves jurídicos.
Com a acentuação da taxa de contaminação do coronavírus, o poder público está recorrendo à justiça para garantir que os hospitais particulares não fechem as portas para a demanda excedente. Dessa forma, em meio à gestão de crise os gestores precisam encontrar um modelo operacional que mantenha a receita e atenda às exigências jurídicas.
Toda a experiência é importante na Saúde. A crise vai se dissipar e, por mais doloroso que seja, os profissionais vão ingressar na nova era com muito mais potencial para direcionar as organizações. A prática, porém, não pode ficar alheia à atualização de conhecimentos. Os gestores modernos devem se apoiar em cursos de capacitação e ampliação das habilidades gerenciais.
A Saúde está sendo reconstruída e aqueles que se permitirem participar da nova era precisam se capacitar e expandir os conhecimentos. É uma certeza que o momento permite.