Gestão Hospitalar

Como captar recursos para reestruturação de hospitais filantrópicos

Linhas de crédito para a Saúde e legislação específica devem ser utilizadas para aprimorar a gestão

Por Editorial GesSaúde

A crise financeira e os inúmeros desafios do setor de Saúde brasileiro deixaram em condições fragilizadas de operação não apenas hospitais privados. Os filantrópicos, como as Santas Casas, já enfrentavam dificuldades há décadas e, para muitas dessas instituições, a situação piorou. Em 2019 são esperadas ainda mais transformações no mercado como um todo, e manter as contas em dia vai exigir esforço e mudança de cultura da gestão hospitalar. Para isso, as filantrópicas podem contar com linhas de crédito e legislações específicas para reestruturar e até fazer novos investimentos na entidade. Mas, para que essa medida seja acertada, o foco deve ser a melhoria da gestão.

O Conselho Curador do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) publicou, em setembro de 2018, um programa de crédito destinado a entidades hospitalares filantrópicas e sem fins lucrativos participantes do Sistema Único de Saúde (SUS). Essas entidades podem usar recursos do FGTS para financiamentos voltados para construção e reforma de hospitais, aquisição de equipamentos, compra de bens de consumo duráveis e de tecnologia da informação. Os juros são de 8,66% ao ano.

Já a Caixa Econômica Federal possui a linha de crédito Caixa Hospitais. Esse financiamento também é específico para entidades filantrópicas e filiais de entidades não filantrópicas conveniadas ao SUS que tenham recursos financeiros a receber do Ministério da Saúde (MS)/Fundo Nacional de Saúde (FNS) referentes aos serviços ambulatoriais e de internações hospitalares. De acordo com informações da Caixa, o valor desse crédito é limitado à capacidade de pagamento da instituição. Dessa forma, a parcela do financiamento não pode ultrapassar 35% da média aritmética simples do faturamento da entidade nos últimos 12 meses junto ao SUS.

Garantir recursos financeiros é apenas o primeiro passo de uma grande transformação pela qual as filantrópicas devem passar para tornar a operação sustentável. Sem um modelo de gestão estruturado com planejamento estratégico, gestão por processos, busca de eficiência, um time qualificado, e a compreensão de que o hospital, mesmo que seja filantrópico, deve gerar lucro, pois necessita também de investimentos e crescimento, as linhas de crédito pouco farão e o risco de aumentar as dívidas é grande.

O balanço financeiro das organizações sem fins lucrativos deve, como todas as outras, fechar o mês no azul. Para manter a compra de insumos, o pagamento dos recursos humanos, investir nas instalações e modernizações e cumprir todos os seus compromissos financeiros, a entidade deve ter a capacidade de gerar caixa de forma consistente, evitando ao máximo a ampliação das dívidas.

Para alcançar esse equilíbrio, é preciso organizar a casa internamente. O gestor deve aplicar métricas de compliance e gestão por processos para saber em quais áreas estão os gargalos de desperdício e possíveis desvios. A gestão deve ser focada em resultados, motivando as equipes tanto da área assistencial como do backoffice a buscar maior eficiência na operação. Portanto, captar recursos através da ampliação do endividamento, por mais desafiador que pareça, é só o início dessa mudança profunda e tão urgente para as filantrópicas e não resolve os problemas estruturais que geraram a necessidade.

Enfrentar os novos desafios que seguirão ao longo de 2019 demanda não apenas equilíbrio financeiro e eficiência operacional, mas também uma mudança de cultura capaz de garantir qualidade no atendimento e segurança ao paciente, bem como os recursos (geração de caixa) para manter o hospital vivo. Grande parte dos brasileiros utiliza os serviços das organizações filantrópicas para cuidar da saúde – e, por isso mesmo, a responsabilidade é ainda maior.

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