Gestão Hospitalar

Resultado e profissionalização da gestão, este é o nome do jogo na Saúde

É o momento de os hospitais avançarem na profissionalização dos processos de gestão para enfrentar as transformações que estão ocorrendo na Saúde

Por Roberto Gordilho*

“Não é o mais forte que sobrevive. Nem o mais inteligente. Mas o que se adapta melhor às mudanças”. Charles Darwin se referia aqui à evolução das espécies, mas podemos confortavelmente aplicar sua frase ao atual cenário da Saúde no Brasil. Vivenciamos um período marcado por complexos desafios que nos obrigam a rever nossos modelos de operação. Questões que até pouco tempo atrás eram considerados tendências estão se tornando realidade em uma velocidade exponencial, tais como: a mudança do modelo de remuneração dos convênios, a incorporação de novas tecnologias, a verticalização das operadoras e o movimento de consolidação na Saúde.

Somam-se a esses fatores o ambiente socioeconômico instável e o poderio que as tecnologias digitais oferecem aos clientes, um caldo que chamo de tempestade perfeita na Saúde. Como resultados desse fenômeno, vemos cada vez mais instituições passando por dificuldades para alcançar resultados e muitas vezes com sua sobrevivência em risco.

Os gestores hospitalares devem encarar o fato de que a mudança do modelo de remuneração não é mais uma possibilidade, é uma realidade que as áreas comerciais já enfrentam no dia a dia das renovações e novas contratações. E, nesse ambiente, falar em glosas e problemas burocráticos entre operadoras e hospitais é só a ponta do iceberg. Os custos da Saúde estão subindo em velocidade espantosa. No início de maio a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) divulgou que, em quatro meses, as operadoras perderam 212 mil usuários. Uma das causas principais é o aumento acima da inflação nos valores dos planos. Trata-se da quarta queda mensal seguida e o patamar mais baixo desde março de 2018. Este é o resultado de uma crise que todo o setor está passando e a profissionalização da gestão é um dos caminhos para a solução, a Saúde está se transformando muito rapidamente.

A Amil, uma das maiores operadoras de planos de Saúde do País, iniciou um processo de descredenciamento de hospitais e a Rede D’Or, a maior rede de hospitais do País, foi uma das mais impactadas. O pano de fundo, segundo apresentado na imprensa, é a implantação da remuneração por valor em detrimento do fee-for-service – que se torna cada vez mais insustentável dentro do atual cenário, isso é uma mensagem para todos.

É o momento de hospitais de todos os portes analisarem essa quebra de paradigma e, mais, pensarem sobre o impacto na operação. A mudança para a remuneração por performance não impacta apenas o faturamento. É necessária uma visão organizacional integrada, toda a cadeia de operação é afetada. A gestão de grande parte das organizações de Saúde sempre esteve focada na produção, agora precisa pensar em resultado, eficiência, economicidade. Esta alteração quase disruptiva no modelo vai impactar todas as áreas da instituição.

Com o modelo de remuneração por valor, o risco fica concentrado no hospital. A eficiência tem que entrar na conta – e esse é um dos principais desafios das organizações de Saúde. Muitas ainda não conseguem sequer calcular o custo de um pacote de serviços, quanto mais pensar em remuneração por performance. A relação com as equipes assistenciais também precisa ser repensada para trabalhar melhor as questões de eficiência e resolutividade com o custo adequado. Gestores devem ponderar todos esses requisitos, pois a mudança no modelo de remuneração já começou e não tem volta.

Diante de todas as mudanças que os gestores dos hospitais terão de fazer para se adaptar ao novo cenário, é preciso não perder de vista que a principal razão de existir das organizações é oferecer serviços de qualidade. A transformação também implica em um novo conceito de experiência do cliente – que deve ter seus anseios e necessidades atendidos em um cenário de grande transformação.

Ao contrário das transformações que o setor sofreu em períodos passados, dessa vez a velocidade é maior por conta da era digital. Novas ferramentas e possibilidades estão surgindo em favor da gestão hospitalar, mas sobreviver implica em saber como preparar o hospital para esta transformação. E este é um passo importante no processo de avançar no aumento da maturidade de gestão e consequentemente dos resultados que garantirão a perpetuidade e crescimento.

* Roberto Gordilho é CEO da GesSaúde, mestrando em Administração e especializado em Sistemas de Informação, Engenharia de Software e Desenvolvimento Web e em Finanças, Contabilidade e Auditoria. Possui cursos de extensão na Kellogg Business School, em Chicago, e na Universidade da California (University of California, UCI).

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