Diante de tantas transformações pelas quais passa a Saúde, qual o nível de planejamento do hospital que você gerencia?
Por Roberto Gordilho
Um novo ciclo está em andamento, com inúmeros desafios e mudanças que vão impactar o mercado de forma geral. Na Saúde, algumas dessas transformações já vêm acontecendo desde anos anteriores, e todas devem ganhar força em 2019, interferindo na operação de diversos negócios – em especial daqueles que não atualizarem suas práticas de gestão. O modelo de remuneração, o peso cada vez maior da geração Y na Saúde, a verticalização do setor, a mudança no modelo de pagamento do médico são alguns dos principais desafios do ano que está começando.
A digitalização das relações fomentou a modernização da gestão de muitas empresas do mercado brasileiro, levando em consideração o poder de decisão e escolha que a tecnologia digital traz aos clientes. Para se ter uma ideia, um estudo específico sobre hospitais da consultoria McKinsey & Company apontou que mais de 75% dos clientes esperam utilizar serviços digitais no futuro. Além disso, organizações conectadas são 50% mais propensas a aumentar a participação no mercado e elevar as margens de lucro, em comparação às suas concorrentes sem acesso à tecnologia.
De forma geral, porém, a Saúde ainda está distante da compreensão desse impacto da mudança do consumidor, que requer alterações profundas na gestão hospitalar. No setor privado, os hospitais vivem uma realidade de redução na base de usuários de planos de Saúde, provocada pela crise econômica dos últimos anos.
O modelo de pagamento já não comporta mais as demandas de qualidade e agilidade dos clientes. A gestão dos hospitais, focadas no pagamento por serviço, não consegue aproximar os médicos dos objetivos, missão e valores da organização – que se tornam apenas frases de parede. É preciso que se abram as portas da administração para modelos que foquem na remuneração por performance. O debate é antigo, mas cada vez mais urgente. Assim, ao invés de reduzir o tempo de atendimento e aumentar o volume da capacidade clínica para lucrar, o pagamento por performance permite um relacionamento mais íntimo entre gestão e corpo clínico, que irá se comprometer cada vez mais em entregar uma assistência resolutiva, eficiente e segura.
E no que diz respeito a relacionamentos, a dinâmica entre operadoras e organizações de Saúde também está passando por transformações cruciais. A ineficiência dessa dicotomia tem fragilizado não apenas o negócio de ambos os lados, mas também a entrega de uma assistência de qualidade ao paciente. Como se não bastasse a burocratização do faturamento, tanto planos de Saúde como hospitais ainda estão ligados a uma operação baseada na doença, e não na prevenção. Os usuários já notaram essa falha no setor e, aliada à crise financeira que se alastrou nos últimos anos, o sistema privado se tornou um encalço para as finanças pessoais e, em muitos casos, o segundo maior custo das empresas. Sem a mudança na cultura de gestão, tanto de operadoras como de hospitais, a redução de usuários pode se intensificar ao longo de 2019. A diminuição no número de beneficiários é calculada em 3 milhões de pessoas desde janeiro de 2015 pela Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge).
Nessa perspectiva, as filantrópicas ainda tem outro grande desafio para enfrentar neste ano: trabalhar junto ao SUS (Sistema Único de Saúde) e conseguir obter resultados positivos. Revisão de gastos, aplicação de métricas de compliance, melhoria na qualidade do atendimento ao cliente e transformar o hospital em uma instituição que realmente cuida da saúde, na sua prevenção, e não no trabalho exclusivo na cura de doenças já estabelecidas. Os desafios são grandes, mas com baixa maturidade a gestão tende a se manter no patamar em que se encontra, prejudicando a sustentabilidade no longo prazo.
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