Um dos benefícios dos wearables devices é a produção de dados em tempo real, permitindo à assistência elaborar ações preventivas aos pacientes
Por Roberto Gordilho
Enquanto você lê este material, muito provavelmente seus sinais vitais estão sendo monitorados. Dos batimentos cardíacos até mesmo quantas vezes você pisca por minuto, tudo é colhido em tempo real, transformado em dados e usado por aplicativos com inteligência artificial programada para fornecer dicas e soluções voltadas para sua saúde. Os wearables devices (ou dispositivos vestíveis, em tradução do inglês) estão presentes no cotidiano de milhares de pessoas, permitindo que profissionais e instituições façam, de fato, parte da vida de seus clientes.
A tecnologia wearable se expandiu de tal forma nos últimos anos que acabou abraçando uma importante fatia da economia. Para se ter uma ideia, apenas nos três primeiros meses de 2021, durante o período mais sensível da crise provocada pela pandemia da Covid-19, no Brasil foram vendidos mais de 964 mil wearables devices, sendo aproximados 616 mil fitbands e smartwatchs, e quase 350 mil fones de ouvido wireless com alguma função online inteligente. Esses são os dados captados pela IDC Tracker Brazil Wearables Q1 2021 realizado pela IDC Brasil, um dos diversos estudos sobre o uso e consumo de wearable devices.
Para a medicina, a primeira grande vantagem dessa inovação é a mudança de hábitos dos pacientes. Afinal, quando uma pessoa se propõe a comprar um equipamento vestível, representa um passo importante no engajamento do próprio cuidado. Por conseguinte, os wearables também representam um forte fator de previsibilidade para a Saúde. Dados confiáveis captados em tempo real fomentam a tomada de decisão cada vez mais assertiva, proporcionando a ação imediata em casos graves e elaboração de estratégias preventivas de promoção à qualidade de vida e bem-estar.
Computação vestível
Os estudos que permitiram a ascensão dos wearable devices em seus mais diversos usos começaram na segunda metade do século 20. O conceito deriva dos estudos sobre computação vestível (wearable Computing, em inglês), introduzida pelo pesquisador Steve Mann, considerado o Pai dos Wearables. Nos primórdios das pesquisas, um dos principais objetivos era criar computadores que pudessem ser vestidos, e não implantados, no corpo humano para potencializar suas capacidades (como visão, audição, etc.). A definição foi apresentada por Mann em seu artigo “Definition of ‘Wearable Computer’”, publicado em 1998 durante a International Conference on Wearable Computing ICWC-98.
No paper, Mann define assim a computação vestível:
“Um computador vestível é um computador que está alocado no espaço pessoal do usuário, controlado pelo usuário, e possui constância de operação e interação, ou seja, está sempre ligado e sempre acessível. Mais notavelmente, ele é um dispositivo que está sempre com o usuário, e permite que o usuário digite comandos ou os execute, enquanto anda ou faz outras atividades”
Medicina
Após mais de 30 anos desde as primeiras pesquisas sobre computação vestível, atualmente os wearable devices são associados à inovações como gamificação, aprendizado da máquina e inteligência artificial para ampliar a atuação médica junto aos pacientes, ou melhor, clientes. Afinal, embora o exemplo mais tradicional de equipamentos vestíveis na medicina, mais precisamente dentro dos hospitais, podem ser os equipamentos de UTI (unidade de terapia intensiva), os profissionais da Saúde podem se valer das novidades para reduzir as chances de uma pessoa desenvolver uma enfermidade e ter condições de cuidar da própria saúde – evitando assim ocupar um leito na unidade intensiva.
Dentro do conceito de gamificação, já foram desenvolvidos wearables adaptados para as costas de um indivíduo. Com o movimento da musculatura, a pessoa é inserida em um ambiente virtual, no qual pode locomover um personagem (ou avatar) usando para isso os movimentos dos músculos – e assim, sem sair de casa, consegue manter uma desenvoltura minimamente aceitável contra o sedentarismo.
Sensores digitais também são usados para ajudar pessoas a abandonarem hábitos nocivos à saúde, como o tabagismo. Além de monitorar os níveis de estresse e hormônios presentes no sangue, wearables com essa finalidade indicam ao usuário práticas e até medicamentos que podem ajudar no processo de tratamento. Aqui, a inserção dos profissionais da Saúde se faz ainda mais presente para elaborar estratégias personalizadas e ter um acompanhamento dos dados capturados pelos equipamentos vestidos pelo paciente.
Os experimentos acontecem de forma cada vez mais acelerada. Sua aprovação junto à sociedade e o uso confiável, seguem a mesma escala de crescimento. Associados à IoT (Internet of Things, a internet das coisas, traduzido do inglês), os equipamentos vestíveis podem reduzir o número de acidentes de trânsito, ajudar melhorar a qualidade do sono em profissionais que exercem longas jornadas de trabalho e até contribuir para a adaptação à transformação digital. Nesse último benefício, as pessoas passam a aprender mais sobre o uso e operabilidade dos equipamentos digitais e integrados à internet à medida que percebem as facilidades cotidianas.
Cabe ressaltar que os wearable devices não substituem de forma alguma a atuação dos profissionais de medicina. Muito pelo contrário, a tecnologia por trás dessa inovação permite que médico e paciente fiquem mais próximos, colaborando para o alto-engajamento com a própria saúde e, do lado do consultório, o especialista tenha em mãos uma base de dados altamente confiáveis, atualizados em tempo real, conectados com a nuvem e com a capacidade de serem compartilhados por uma equipe multidisciplinar.
Então, enquanto a ciência médica avança em parceria com as inovações digitais, dentro da gestão os desafios são estruturar os processos, tecnologias de gestão e TIs (Tecnologias de Informação), formar times capacitados para lidar com os dados gerados e, assim, fornecer serviços mais personalizados e que promovam a qualidade de vida e bem-estar dos clientes.