Informatização dos hospitais exigirá novas regras de administração e compliance, que facilitarão a implantação de uma cultura verdadeiramente digital
por Roberto Gordilho
Na década de 1950, a indústria automobilística estudava a necessidade de colocar cintos de segurança nos automóveis. Em 2017, debatemos o transporte via aplicativos e o problema que os táxis estão passando. No futuro, os carros sequer precisarão de motoristas – os testes estão, inclusive, sendo realizados enquanto você lê este artigo. Tudo isso é fruto do avanço da tecnologia e da transformação digital.
Mudanças como essas também ocorrem nos hospitais. Processos são informatizados e sistemas passam a servir de apoio à prática médica e acumular enorme quantidade de dados, que podem ser usados para tomar decisões que irão mudar para sempre a forma como as organizações funcionam e se posicionam no mercado. Em meio a esse turbilhão, está claro que a governança corporativa também precisará se adaptar – afinal, ela se consolidou como prática administrativa há 25 anos, a partir de 1992, com a publicação na Inglaterra do Relatório Cadbury, considerado o primeiro código de boas práticas sobre o assunto.
Os 5 níveis de maturidade da governança corporativa
Essa metodologia de gestão é definida como o sistema pelo qual as organizações são dirigidas e monitoradas, envolvendo relacionamentos entre sócios, conselho de administração, diretoria, órgãos de fiscalização e controle e demais partes interessadas. Por sua vez, a transformação digital, no meio corporativo, é considerada como a vasta e rápida mudança na maneira como as empresas pensam suas atividades, tais como processos, competências e modelo de negócios.
As inovações disruptivas proporcionadas pela transformação digital não significam que a governança deva ser deixada de lado, muito pelo contrário. É preciso, sim, utilizar a tecnologia tanto para aumentar a eficiência e produtividade quanto para garantir melhores práticas de governança, gestão e inovação nas organizações. Serão cada vez mais necessárias novas regras, novos modelos de compliance, novas formas de praticar governança corporativa. Pode até parecer estranho falar de regras em um ambiente que está quebrando muitas delas, mas é justamente com diretrizes que os hospitais alcançarão os resultados prometidos pela transformação digital.
Cultura
Uma boa governança corporativa traz mais agilidade, transparência e autonomia, portanto, está diretamente ligada à digitalização. Hospitais que querem fazer parte da era da transformação digital precisam engajar suas equipes para essa nova cultura, e nada melhor que contar com a metodologia para que todos comprem a “ideia” de ser digital. Isso porque a governança corporativa garante que os primeiros passos desse processo não enfrentarão problemas como falta de entendimento e clareza dos papéis que cada um desempenha.
A Endeavor, organização global voltada ao empreendedorismo, afirma que crescer com governança corporativa, entre outras coisas, significa aprimorar os processos de administração. Isso se aplica a tomadas de decisão estratégicas, como iniciar ou encerrar um projeto, e a definição de níveis e papéis de controle na organização. Mais uma vez, o conceito se destaca em meio à transformação digital, já que o processo de digitalização da operação tende a facilitar o acompanhamento das práticas de gestão da instituição.
Mas é preciso enfatizar que, para que a transformação digital, de fato, permeie o cotidiano das organizações de Saúde, será preciso avançar também nos pilares de estratégia empresarial, tecnologias de gestão, gerenciamento de processos e gestão de pessoas, além da governança corporativa, de forma a evoluir a maturidade de gestão hospitalar.
Roberto Gordilho é fundador da GesSaúde, mestrando em administração, especialista em sistemas de informação, engenharia de software, desenvolvimento web e em finanças, contabilidade e auditoria, possui mais de 30 anos de experiência nas áreas de tecnologia e gestão, sendo 15 na área da Saúde.
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