Gestão de Crise em Hospitais

Coronavírus: tecnologia para a gestão da crise

Especialista analisa as principais transformações à gestão hospitalar causadas pela crise do coronavírus

Por Editorial GesSaúde

A crise do coronavírus tem despertado a preocupação de toda a população temerosa aos riscos do contágio. Porém, tendo em vista que a pandemia em breve será dissipada, diversas são as transformações e aprendizados que o momento está oferecendo, inclusive para a gestão hospitalar. E, nesse âmbito, a mudança mais radical é quanto à cultura digital. Essa é a visão do  professor de informática médica da Unicamp e da Escola Bahiana de Medicina, Renato Sabbatini. Nesta entrevista para a série Coronavírus: Gestão de Crise, o biocientista também discorre sobre os impactos negativos da desinformação para o combate à pandemia.

GesSaúde: Como o senhor acredita que a sociedade e a Saúde serão transformadas pela crise do novo coronavírus?

Renato Sabbatini: A meu ver, e de muitos analistas, será uma transformação sem volta ao status anterior, principalmente no que diz respeito a um uso mais amplo das tecnologias de rede. Educação e Medicina, principalmente, estão passando por uma transformação digital muito rápida, e os protagonistas destas transformações, que são os profissionais de saúde e educação, bem como alunos e paciente, se adaptarão, certamente, ao cenário pós-pandemia do novo coronavírus. Reuniões serão cada vez mais on-line, a mesma coisa com aulas e cursos, e até palestras e congressos. A telessaúde será muito mais disseminada. Até o cenário regulamentador mudou.

GesSaúde: Qual o papel da tecnologia na redução dos impactos da crise?

Renato Sabbatini: Em primeiro lugar com o acesso à informação sobre a crise através de notícias e publicações on-line. Acho que isso está acontecendo 100%. As pessoas precisam ficar constantemente mais bem informadas e em contato com as decisões do governo, por exemplo. Segunda contribuição é a explosão do teletrabalho, de tal forma que as pessoas possam continuar a produzir a partir de suas casas. Isso permite reforçar a quarentena e diminuir a probabilidade de contágio. Terceiro, vários tipos de sistemas on-line que podem ajudar diretamente as pessoas que suspeitam estar com o vírus ou querem evitar o risco d contaminação, como aplicativos de inteligência artificial para auto diagnóstico e avaliação de riscos. Obviamente, também o big data sobre a situação epidêmica é de total importância para o planejamento das ações e alocação de recursos.

GesSaúde: Na opinião do senhor, faltou investimento em tecnologia pelas organizações de Saúde antes desse momento de pandemia?

Renato Sabbatini: Sem dúvida. Uma das áreas com muitas falhas é a segurança da informação, para a qual não estavam ainda plenamente preparadas. Outra é da telemedicina, especialmente a teleconsulta. Existiam poucas plataformas de teleconsulta disponíveis, pois não havia legislação que a autorizasse, exceto para a psicologia. 

GesSaúde: As empresas de modo geral terão uma oportunidade de crescer após a crise? De que forma?

Renato Sabbatini: As áreas de Saúde e Tecnologia a elas associadas estão crescendo muito durante o enfrentamento da pandemia do coronavírus, um crescimento atabalhoado e brusco, como se pode esperar, com todos os problemas que o acompanham. Eu acredito que muitas das tecnologias desenvolvidas agora irão perdurar e oferecer oportunidades para o aperfeiçoamento e amadurecimento das soluções.

GesSaúde: Pensando nas organizações de Saúde, quais seriam as principais lições que essa crise fornece?

Renato Sabbatini: Sem querer polemizar, a lição principal é que a maioria não estava preparada, especialmente a saúde pública (SUS), cujo papel no enfrentamento é fundamental. A falta de preparo vai desde a maioria das instituições e o próprio governo não terem planos de contingência para epidemias infecciosas com um grande número de pacientes graves, que necessitam de suporte intensivo, até a falta de pessoal treinado. O impacto sobre a tecnologia de informação mostrou também que a capacidade era insuficiente para lidar com o enorme número de situações criadas, desde o volume de dados, até a necessidade de comunicação eletrônica, especialmente quanto à falta de conhecimentos e práticas no uso da telemedicina e telessaúde.

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