Dinamismo, transformação e novos desafios fazem com que o setor se adapte a uma nova forma de gestão, o padrão startup
Por Roberto Gordilho
Quando a física polonesa Marie Curie começou os primeiros experimentos sobre a radioatividade, pouco se sabia quais seriam as reais aplicações das partículas excitadas. Anos após a morte do seu marido e parceiro na ciência, Pierre, ela percebeu os desafios entorno da manipulação de átomos instáveis para a indústria e comércio. O mundo da radioatividade era totalmente incerto e incipiente nos idos da década de 1940 e, em certos ramos da física, a previsibilidade é um luxo quase inalcançável. Assim como na ciência nuclear, a Saúde começou a perceber que também está em um mundo de incertezas, transformação e soluções ainda em desenvolvimento – o que a assemelha em muitos aspectos ao mundo das startups.
Em todo o mercado é possível inovar e as startups são a expressão maior deste bojo de oportunidades – o que não as torna totalmente infalíveis, muito pelo contrário, a falha faz parte do jogo, é preciso aprender a sobreviver em um mundo de incertezas. Para quem sempre vivenciou a rotina de gerenciar uma organização de Saúde, percebe agora que o mundo de certezas ficou para trás. E existe uma semelhança matemática e tática muito forte com o modelo de incertezas das startups. Porém, o setor tem uma peculiaridade: lida com pessoas que trabalham para pessoas, uma retórica muito mais latente que em outras indústrias puramente tecnológicas. À medida que as relações vão se alterando, a gestão encara uma miríade de desafios para readequação a adaptação do negócio.
Transformação
Muitas startups começaram a vida apresentando soluções digitais para problemas físicos. Na Saúde, o foco é o ser humano que possui uma velocidade de transformação superior às máquinas (quando quer). As necessidades são infinitas e imprevisíveis. De novas formas de acesso aos serviços até o surgimento de crises epidemiológicas, a demanda por inovação não para de chegar nos desktops e smartphones dos executivos e lideranças na Saúde. O lado positivo é que na Saúde os aprendizados também ocorrem de forma disruptiva. O que é certo agora, não vai resolver o inesperado desafio que irá surgir nos próximos minutos.
Dinâmica organizacional
As startups aprendem a viver na incerteza e a Saúde vai precisar desenvolver este aprendizado, não basta apenas lutar pela sustentabilidade, é preciso avançar e se tornar mais ágil. O modelo de gestão clássico utilizado na grande maioria das organizações de Saúde foi criado no início do século XX para um mundo completamente diferente, após mais de 100 anos de sucesso talvez seja a hora de incorporar novos paradigmas, afinal o mundo mudou, no lugar de certeza, estabilidade e previsibilidade, temos incerteza, dinamismo e transformação.
Como em qualquer empresa, saber para onde ir e qual caminho traçar é a plataforma em que a gestão vai trabalhar. Contudo, por décadas a Saúde esteve voltada para questões distantes do centro do negócio: o cliente, o foco era o processo. Perceber que o paciente já não tem paciência alguma para as dificuldades de acesso e processos analógicos e burocráticos, é um paradigma difícil de ser transposto por muitas organizações de Saúde.
Modelo startup
Voltando à realidade, o setor Saúde está cada vez mais parecido com o mundo das startups, pois a operação dos negócios perdeu a certeza, previsibilidade e estabilidade, é hora de avançar nos fundamentos da gestão, além de estratégia, governança, gestão de pessoas, gestão de processos e tecnologias de gestão, precisamos começar seriamente a pensar e implementar a gestão ágil, inovação liderança e pensamento digital, este é o caminho para garantir algo muito maior que a sobrevivência, a relevância em um futuro que já chegou.