Liderança

 A Arte de Desaprender: o que líderes precisam abandonar para evoluir na Saúde

Crescer como líder não é apenas adquirir novos conhecimentos: é ter coragem de desapegar de crenças, hábitos e modelos mentais que limitam o potencial de transformação na gestão da Saúde.

Por Roberto Gordilho

Há um paradoxo que acompanha a liderança contemporânea: nunca tivemos tanto acesso a informação, e, ao mesmo tempo, nunca estivemos tão presos a velhos modos de pensar.
Na Saúde, essa contradição é ainda mais evidente. Lideranças continuam tentando resolver novos problemas com ferramentas antigas, presas a estruturas mentais que já não dialogam com a complexidade atual do setor.

Desaprender é o primeiro passo da evolução.
Não há espaço para a maturidade de gestão sem o desapego do que já não serve — e esse é um dos maiores desafios para quem ocupa cargos de liderança em organizações de Saúde.

O peso invisível do conhecimento ultrapassado

Todo líder carrega uma bagagem feita de experiências, crenças e modelos de sucesso do passado. O problema é que, muitas vezes, o que funcionou antes pode ser o que impede o progresso agora.

Na gestão hospitalar, por exemplo, ainda vemos práticas centradas em hierarquia rígida, controle excessivo e foco operacional absoluto. Esse modelo pode até ter gerado eficiência em um tempo de estabilidade, mas hoje sufoca a inovação, desmotiva equipes e limita a visão estratégica.

O mundo mudou — e o líder que não desaprende, fica preso no tempo.

Desaprender é remover camadas de certezas, abrir espaço para o novo e aceitar que o conhecimento é transitório. É uma forma de humildade intelectual que separa líderes comuns de líderes extraordinários.

A neurociência do desaprendizado

Estudos em neurociência mostram que o cérebro cria atalhos mentais para economizar energia — os chamados “padrões de familiaridade”. Esses atalhos ajudam na rotina, mas dificultam a mudança.
Quando um líder tenta adotar uma nova prática, seu cérebro tende a resistir, preferindo o conhecido. Por isso, mudar processos é fácil; mudar mentalidades, não.

Desaprender, sob essa perspectiva, é um treino cognitivo. É desafiar o cérebro a pensar de forma diferente, reconfigurar conexões e permitir-se errar no caminho.
É o exercício de substituir o automático pelo consciente — um esforço que exige tempo, curiosidade e coragem.

O que os líderes precisam desaprender na Saúde

Ao longo de anos acompanhando gestores e executivos da Saúde, percebo três padrões que precisam ser urgentemente desaprendidos:

1. O mito do controle total
A crença de que o líder precisa controlar tudo é uma das principais fontes de estresse e ineficiência. Equipes maduras não precisam de supervisão constante, precisam de direção e confiança.
Desaprender o controle é abrir espaço para a autonomia e o senso de pertencimento.

2. O foco exclusivo na performance técnica
A competência técnica é indispensável, mas sozinha não forma líderes extraordinários. A nova liderança na Saúde exige inteligência emocional, empatia e habilidades humanas.
Desaprender a lógica do “saber mais” e substituí-la por “conectar melhor” é o novo diferencial competitivo.

3. A aversão ao erro
Em ambientes de alta responsabilidade, o erro é visto como falha moral. Mas sem erro, não há inovação.
Desaprender o medo do erro é criar culturas seguras, onde pessoas experimentam, aprendem e evoluem sem paralisia.

Esses três desaprendizados libertam o líder das amarras do passado e o colocam no caminho da maturidade de gestão.

O desapego como motor da transformação

A transformação organizacional não começa em um software, uma metodologia ou uma consultoria — começa no desapego.
Um líder que desaprende se torna mais adaptável, mais consciente e mais aberto à colaboração. Ele deixa de defender verdades absolutas e passa a cultivar perguntas poderosas.

Na prática, isso se traduz em ambientes mais criativos, decisões mais participativas e uma cultura onde o aprendizado é contínuo.
Desaprender é, portanto, o início de toda inovação sustentável.

Como praticar o desaprendizado

Desaprender não é apagar o passado, é ressignificá-lo. Algumas práticas podem acelerar esse processo:

  • Reflexão sistemática: reserve tempo semanal para analisar decisões tomadas e questionar seus próprios padrões.
  • Exposição a novas perspectivas: participe de grupos de aprendizagem fora do seu círculo de referência.
  • Mentoria reversa: ouça profissionais mais jovens e permita-se aprender com visões diferentes.
  • Experimentação segura: crie espaços onde errar seja permitido e usado como fonte de aprendizado coletivo.

Cada um desses passos é um antídoto contra o conformismo — e um catalisador de novas formas de liderar.

O futuro pertence aos líderes desaprendizes

No futuro da Saúde, sobreviverão as lideranças capazes de se reinventar. Não as mais antigas, nem as mais experientes, mas as mais dispostas a abandonar velhos modelos mentais.

A arte de desaprender é o que diferencia quem reage às mudanças de quem as antecipa.
E quando líderes aprendem a desapegar, suas organizações se tornam mais ágeis, humanas e inteligentes.

O convite é simples — mas profundo:
O que você, como líder, precisa desaprender hoje para construir o futuro da Saúde?


No Clube Liderança para Vida, exploramos o processo de desaprender como ferramenta de evolução pessoal e profissional.
Participe dessa jornada e descubra como libertar-se de velhos padrões pode abrir espaço para a liderança extraordinária que o futuro da Saúde exige.

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