Fornecer recursos e treinamento para as pessoas é uma forma de fazer com que o planejamento estratégico resulte em melhores resultados
Por Roberto Gordilho
Saber onde se quer chegar não é mais o suficiente para ter um negócio perene e equilibrado. É preciso ter um caminho e formas definidas de conduzir a instituição para os objetivos de maneira profissional e segura. Ou seja, é preciso contar com um planejamento estratégico, desdobrá-lo entre as áreas e pessoas da organização e, acima de tudo, estar preparado para adaptar as estratégias conforme as mudanças de cenário.
O planejamento estratégico é a base para uma operação focaca em resultados. Trata-se de um processo sistêmico no qual são definidos as metas e os objetivos de um negócio, que serão atingidos conforme estratégias táticas e operacionais. É importante frisar que planejamento não deve ser executado apenas por uma pessoa, ele deve ser elaborado pelos principais executivos da organização para trazer amplitude e diferentes visões. Após a elaboração do plano estratégico, ele deve ser desdobrado com as demais hierarquias (tático) e áreas do empreendimento (operacional). Além disso, para que faça sentido, as pessoas precisam ser treinadas, capacitadas e ter à disposição os recursos necessários e fundamentais para que cada rotina de cada processo seja realizada conforme o que foi planejado.
Mas, para traçar um planejamento que seja alcançável e que faça sentido no contexto da organização, é essencial que a alta gestão conheça o ambiente em que se encontra, as forças e fraquezas do negócio, as ameaças, e quais são as oportunidades que podem ser exploradas. De nada adianta traçar um caminho e percorrê-lo às cegas, para isso existem algumas ferramentas que auxiliam na construção.
Matriz Swot e as 5 Forças de Porter
Após a definição ou revisão da ideologia (missão, visão e valores), o primeiro passo é conhecer bem a organização, o que ela pode oferecer como resultado empresarial e quais são os desafios a serem vencidos. Nessa fase inicial do planejamento estratégico é muito comum usar duas ferramentas clássicas: a Matriz Swot e as 5 Forças de Porter.
Também conhecida como Fofa, a Matriz Swot foi desenvolvida entre as décadas de 1960 e 1970. Muito embora diversos autores credenciem a Swot aos trabalhos do pesquisador Albert Humphrey, da Universidade de Stanford, diversos outros pensadores contribuíram para o formato atual da matriz como, por exemplo, os professores George Albert Smith Jr. e C. Roland Christensen, da Unidade de Políticas da Harvard Business School.
Créditos à parte, a Matriz Swot é uma ferramenta gerencial voltada para analisar aspectos internos e externos de um negócio. A expressão Swot é formada pelas palavras em inglês: Strengths (forças), Weaknesses (fraquezas), Opportunities (oportunidades), Threats (ameaças).
Segundo a metodologia de aplicação da matriz, forças e fraquezas referem-se ao ambiente interno, oportunidades e ameaças ao ambiente externo da organização.
Strengths (forças)
Aqui os gestores de uma organização de Saúde devem listar todas as forças da organização Por exemplo:
- Situação financeira
- Aspectos e fatores funcionais
- Cultura organizacional
- Grau de maturidade
- Equipe de gestão
- Equipes técnicas
- Equipes de apoio
- Estilo a capacidade gerencial
- Sinergia empresarial
Weaknesses (fraquezas)
Agora entra o outro lado da moeda. Qualquer negócio tem suas fraquezas e pontos que podem ser e devem ser otimizados e melhorados. Conhecer profundamente cada fragilidade permite que a gestão possa se preparar melhor para possíveis adaptações e mudanças de trajeto. Afinal, existem diversas formas de alcançar os objetivos. Tudo depende do cenário e como ajustar os pontos de fraqueza para permitir o andamento do negócio.
Opportunities (oportunidades)
Após avaliar bem a estrutura interna da instituição, suas forças e fraquezas, o próximo passo é olhar para fora. Ou seja, o que o mercado pode oferecer para permitir o sucesso do empreendimento. Os fatores externos incluem condições políticas e econômicas, mudança no comportamento de consumo dos clientes e até mesmo novas tecnologias que podem beneficiar o gerenciamento da organização, gerando mais valor e garantindo a sustentabilidade.
Threats (ameaças)
Ainda com a visão para o lado de fora, as ameaças constituem tudo o que pode gerar desafios e até impedimentos para o andamento do negócio. É preciso que os gestores tenham a visão clara de que, por mais importante e equilibrado que o negócio esteja, ele não está imune às variações e intercorrências do mercado e da vida em sociedade. Em um mundo de transformações, tudo acontece de forma muito veloz e o que era impensável ontem pode se tornar uma realidade para o hospital em questão de dias (para não dizer horas).
5 Forças de Porter
Outra importante ferramenta gerencial no processo de conhecimento da instituição são as 5 Forças de Porter, metodologia apresentada pela primeira vez em 1979 no artigo “Como as forças competitivas dão forma à estratégia”. Ali, o professor da Harvard Business School, Michael Porter, apresentou um modelo para avaliar a competitividade de uma indústria. A metodologia, porém, pode ser adaptada para qualquer setor, como a Saúde..
De forma simplificada, as 5 Forças de Porter podem ser assim expressadas:
- Rivalidade entre os concorrentes;
- Poder de negociação dos fornecedores;
- Poder de negociação dos clientes;
- Ameaça de produtos substitutos;
- Ameaça de entrada de novos concorrentes.
A dinâmica para cada força muda conforme o ambiente no qual a organização de Saúde está inserida e a depender de seu segmento de atuação. Assim, é preciso ter em mente que tanto para a Matriz Swot quanto para as 5 Forças de Porter o peso de cada sentença se altera conforme variações socioeconômicas, políticas e o surgimento de imprevisibilidades, como foi o caso da crise provocada pela pandemia da Covid-19.
Planejamento tático e operacional
O planejamento estratégico representa um norte, ou seja, como a organização quer se posicionar no mercado e sociedade e quais os objetivos almejados, além do caminho para alcançá-los. E para que isso aconteça, é fundamental desdobrar as ações por meio dos planejamentos tático e operacional.
Dentro do plano tático, os projetos são voltados para a alocação dos recursos necessários e fundamentais para que cada área possa atingir suas metas e parcelas do objetivo empresarial. Portanto, trata-se do nível intermediário do planejamento estratégico, que será distribuído por áreas, diretorias, coordenações e lideranças.
Em seguida, é preciso estabelecer os processos que vão permitir a execução das ações voltadas para alcançar os objetivos planejados. Para cada rotina é fundamental criar um fluxo (processos). Todo o desdobramento deve levar em consideração a atuação individual das áreas e suas particularidades. Esse é o planejamento operacional.
Pessoas e resultados
Planejamento estratégico elaborado e documentado. Processos definidos e desdobramento ativo entre planos táticos e operacionais. Até aqui, tudo bem. Mas o dever de casa ainda está incompleto. Para que os resultados sejam alcançados, é fundamental traduzir o planejamento estratégico para as pessoas de todos os níveis do negócio. E não é só isso. Diretores, gerentes e coordenadores precisam não apenas conhecer suas responsabilidades: eles também devem ser treinados para executar as tarefas e gerenciar equipes e recursos.
O mesmo vale para as lideranças e demais pessoas que compõem as equipes. Ainda que um colaborador seja extremamente bem qualificado em sua profissão, o que acontece muitas vezes é que falta o DOM: Disciplina, Organização e Método. O sucesso do planejamento estratégico depende do quão responsável e comprometida está cada pessoa que atua na organização de Saúde. Além disso, não basta saber o que fazer para alcançar as metas. É necessário estrutura e ferramentas para que o trabalho seja levado adiante.
Por mais que o planejamento estratégico tenha sido bem elaborado, outro fator preponderante é sua flexibilidade. Afinal, o mundo passa por transformações muito aceleradas e que não é razoável pensar que o mundo ficará imutável por muitos anos. A mudança de cenário pode acontecer em questão de semanas. É preciso estar preparado para mudar o rumo, o caminho – e não os objetivos, à primeira vista. Independente de qual caminho escolher, é crucial ter estratégia para manter a casa em ordem e funcionando.
Ou seja, é preciso fazer gestão. E que fazer gestão seja uma cultura disseminada em todos os níveis e hierarquias do negócio.