Os benefícios da impressão 3D se estendem para além da medicina, otimizando a gestão de estoques e ampliando as possibilidades da fabricação de insumos por demanda
Por Roberto Gordilho
Cabeça, membros, joelho e pé. A união da robótica, modelagem, inteligência artificial e produção de materiais biomoleculares fez com que a impressão 3D (a reprodução de objetos em três dimensões) transgredisse as paredes de laboratórios e salas de operação para transformar estratégias tradicionais de gestão de insumos, logística e estoque. Evoluindo exponencialmente, essa inovação demanda que a cultura tecnológica das organizações de Saúde se atualizem de igual maneira para permitir que novos serviços e produtos possam ser ofertados – sem falar, claro, na redução de custos e desperdícios, entre outros benefícios.
A impressão tridimensional surgiu devido à necessidade de oferecer tratamentos cada vez mais personalizados, atendendo o biotipo e características individuais dos pacientes. Esse olhar capilar da ciência médica determinou a forma como a impressão 3D ganhou espaço em diversos ambientes da sociedade. Afinal, é possível obter cópias quase idênticas de qualquer objeto para finalidades domésticas e comerciais. Na Saúde, a complexidade das demandas impele a união de diversos conceitos e inovações técnico-científicas que, inclusive, substituem materiais como polímeros por células vivas para a reprodução de órgãos.
Histórico
Estereolitografia é a tecnologia precursora da impressão 3D. Ela foi utilizada pela primeira vez para reprodução de objetos em 1984, pelo físico norte-americano Charles Hull. Conhecido por ser o pai da impressão 3D, Hull absorveu inspiração e experiência para desenvolver a novidade a partir dos processos de aplicação de resina e material plástico sobre o tampo das mesas e móveis. A inquietação do cientista e empresário se dava pela demora na execução do trabalho: para aplicar finas camadas de plástico sobre as mesas, os empreendimentos da época levavam até 2 meses, usando para isso a incidência luz UV (ultra-violeta).
Então surge a ideia. Hull imaginou que seria possível reproduzir um objeto empilhando finas camadas de resina, que seguiam o design original por meio do fatiamento digital. Não demorou muito para que, por volta de 1986, o empreendedor patenteasse a tecnologia dando vida a 3D Systems, principal player de impressão 3D. Rapidamente, outros precursores e entusiastas da novidade desenvolveram novos materiais e softwares para modelagem e reprodução digital refinada de objetos e órgãos humanos.
Dentro dos hospitais, a impressão 3D permitiu que os profissionais tivessem uma visão detalhada e realista do que está acontecendo com os pacientes. Enquanto imagens bidimensionais por ultrassonografia, por exemplo, reduzem as nuances de órgãos, vasos sanguíneos e tumores, a prototipagem expõe tudo o que os médicos precisam. Para o paciente, isso resulta em maior segurança e redução de danos e debilitações por cirurgias de exploração, como as realizadas para verificar um tumor e planejar o tratamento oncológico, por exemplo.
Do ponto de vista organizacional, a gestão também ganha em segurança e redução de custos. Afinal, tratamentos menos invasivos e mais personalizados permitem que o hospital não tenha que arcar com possíveis complicações da estabilidade do paciente ou até mesmo responsabilidades judiciais em caso de uma intercorrência no tratamento.
Um mundo sem estoques
As possibilidades da impressão 3D são diversas e surgem de forma cada dia mais velozes. Isso implica que tanto gestores quanto profissionais ligados diretamente com o tratamento estejam constantemente atualizados. Em diversas instituições os danos psicológicos e motores dos pacientes estão sendo reduzidos pela produção fiel de membros amputados. Pernas, peles sintéticas e cartilagens, por exemplo, podem ser reproduzidos dentro do ambiente hospitalar, em tempo otimizado, o que aumenta as chances do paciente ter uma recuperação menos estressante e melhor adaptação às próteses.
Assim, os hospitais ampliam não apenas suas capacidades de promoção de bem-estar. A impressão 3D permitirá que a gestão possa ter um estoque digital de órgãos e partes do corpo que podem ser adaptadas para cada pessoa. Com isso, as demandas são atendidas conforme vão surgindo, eliminando a total dependência de um estoque de OPMEs (órteses, próteses e materiais especiais), por exemplo. Esse é apenas um dos mais diversos benefícios da tecnologia 3D.
Outra vantagem para a organização é o conhecimento adquirido com o uso da prototipagem tridimensional. A engenharia biomolecular e a nanotecnologia são alguns dos campos de estudo de aprimoramento da impressão 3D. Somados às inúmeras especialidades médicas e de tecnologia da informação (TI) envolvidas no aprimoramento dessa tecnologia, tais áreas do conhecimento permitem que uma organização de Saúde possa se tornar um polo educacional e até mesmo centro de pesquisa. Para a gestão, é mais uma forma de explorar as potencialidades dos negócios e garantir sustentabilidade e inovação para a instituição.